Estamos presenciando um novo paradigma em termos de comportamento organizacional, no qual as corporações passam a levar em consideração, de forma sistêmica, as dimensões econômica, social e ambiental para as suas tomadas de decisões. Isso passa pela desafiadora missão de harmonizar diferentes interesses, considerando eventuais trade-offs.
Para quem não lembra, trade-off é o nome que se dá a uma decisão que consiste na escolha de uma opção em detrimento de outra. Para se tratar de um trade-off o indivíduo deve, necessariamente, deixar de lado alguma opção em sua escolha. No cerne dessas discussões, estão as organizações e as decisões tomadas por seus gestores que podem seguir na busca desenfreada pelo crescimento econômico ou considerar os aspectos sociais e dos fatores naturais na sua estratégia organizacional. Baruch de Espinosa (1632-1677) preconizou que ¨temos que construir o Estado não com as virtudes dos homens, que são escassas, mas com as paixões e vícios que são abundantes¨. É possível transbordar essa reflexão para o mundo corporativo, na medida em que um sistema de governança corporativa parte do pressuposto de que a natureza instintual humana pode conduzir a decisões baseadas no seu próprio interesse.
A melhor e mais completa definição de governança corporativa, a meu ver, foi desenvolvida pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que aborda que a estrutura da GC especifica a distribuição dos direitos e responsabilidades entre os diferentes participantes da corporação, tais como os acionistas, conselho de administração, diretores executivos e outros interessados, além de definir as regras e procedimentos para a tomada de decisão e as bases através das quais os objetivos da organização são estabelecidos, definindo os meios para alcançar tais objetivos e os instrumentos para acompanhar o desempenho.
Nesse contexto, a arquitetura de governança poderá balizar comportamentos humanos a partir da instituição de órgãos de monitoramento e fiscalização, em paralelo com a adoção de mecanismos de integridade e melhoria contínua de controles internos e gestão de riscos corporativos.
A partir da próxima semana, apresentaremos um vídeo por semana contemplando as atribuições de cada órgão dessa arquitetura para demonstrar como a governança corporativa pode contribuir com a perenização organizacional, considerando as três dimensões da sustentabilidade.
A primeiro vídeo será sobre a Auditoria Interna.
Rodrigo Casagrande é doutor em administração, com estágio doutoral na Université de Montréal e diretor na RCA Governança & Sucessão.